D. JOÃO DA CÂMARA, UM HOMEM BOM
Por
Humberto Pinho da Silva
D. João da Câmara era admirado
por todos que tiveram a felicidade de, com ele, terem convivido.
Era poeta notável, e grande
dramaturgo. - Em 1901 foi candidato ao Prémio Nobel de Literatura.
- Todavia, decorrido mais de cem
anos da sua morte, é, para a geração actual, um desconhecido.
Mas se é de admirar a obra – que
é excepcional, – não é menos digno de relevo o exemplo que deu, com a conduta
exemplar da sua vida.
Como homem de teatro, que era,
os contemporâneos, que não lidavam com ele, pensavam que era um bom vivant, por
conviver com actrizes de nomeada.
Estavam redondamente enganados.
Além de escrupuloso consigo, em matéria moral, tinha particular cuidado na
educação dos filhos, recomendando-lhes que não descorassem as suas orações.
Segundo Pedro Pinto. “ Era
dotado de uma modéstia de trajo e de maneiras que a todos encantava, granjeando
a estima e a veneração dos mais altos aos mais humildes” – “ Occidente” –
10/01/1908.
Entre os numerosos episódios, que
se contam, episódios comoventes, que só Homem extremamente bondoso, poderia ter
vivido, há o célebre caso das botas:
Aluno, de fracos recursos, não
tendo calçado decente para se apresentar num importante encontro, lembrou-se
que o professor calçava o mesmo número.
Foi bater-lhe à porta. D. João
da Câmara ouviu comovido o insólito pedido. Compreendeu a aflição do rapaz. Foi
ao quarto. Buscou as únicas botas que possuía…
Já ia alta a manhã e o
dramaturgo não saia do quarto. Preocupado, um filho, foi verificar a razão da
demora, e encontrou-o deitado.
Pensou que o pai estivesse
doente; mas, após breve interrogatório, este declarou-lhe, muito encolhido, o
que acontecera.
Ficou espantado com o que
ouvira, e inqueriu: porque não lhe emprestara as botas novas, que lhe haviam
oferecido; ao que D. João da Câmara, repostou:
- Essas apertam muito… Meu
filho! Ele tem o meu pé!…”
Era assim D. João da Câmara,
ilustre descendente de João Gonçalves Zarco.
A extraordinária actriz Maria
Mattos, tinha por ele verdadeira veneração: sempre que sentia dificuldades ou
problemas sérios, deslocava-se ao cemitério e rezava junto do jazigo do
escritor – segundo narra Dona Emília Almeida Garrett, em carta endereçada à
mãe, datada de 25/06/1910.
Homens como D. João da Câmara
deviam ser lembrados nas nossas escolas, com exemplo a seguir pela juventude,
que tão desvairada anda; mas, infelizmente, nos nossos dias, ser bom: é
sinónimo de imbecilidade.
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